Evangelho de Lucas 1, 57-66.80”
“COMPLETOU-SE O TEMPO...”
Nossa vida de fé é marcada por muitas
promessas, a primeira delas no Batismo, quando pais e padrinhos, falando por
nós prometem e se comprometem em professar uma fé viva, capaz de um testemunho
autêntico diante do filho ou do afilhado, e na unção crismal prometemos acolher
em nossa vida o dom do Espírito Santo e deixarmo-nos conduzir por ele.
O “amém” ao receber a Eucaristia não
deixa de ser também uma promessa, de viver sempre em comunhão com Jesus, e nos
sacramentos da ordem ou do Matrimônio, prometemos viver um amor total de
entrega e doação à Santa Igreja, ou um ao outro, na vida conjugal. Fazemos
muitas promessas diante de Deus, antes de receber o sinal sacramental e sabemos
muito bem, que por causa dos nossos pecados, muitas vezes quebramos promessas sagradas,
quando acontecem as separações, o abandono da comunidade ou de uma vocação
religiosa.
Não é de hoje que o homem não cumpre
suas promessas diante de Deus, à Bíblia está repleta de relatos onde as
pessoas, e próprio povo descumpriu algo prometido diante de Deus. Entretanto,
não encontramos uma só palavra ou frase, no antigo ou no novo testamento, onde
afirme que Deus deixou de cumprir alguma de suas promessas, feitas para o
homem.
A natividade de João Batista, único
santo que no calendário da Igreja, tem comemorado o seu nascimento, se reveste
de fundamental importância na história da salvação, justamente por ser um
elemento divisor entre o tempo chamado das promessas, e o tempo do cumprimento
das mesmas.
Há na religiosidade do povo
brasileiro uma prática que a modernidade não conseguiu matar: a de fazer
promessas! Todas as promessas são feitas para Deus, mas com a intercessão dos
santos. A história da Salvação teve início com uma promessa, feita pelo próprio
Deus. Ele prometeu através de líderes como Moisés, dos patriarcas Abraão, Isaac
e Jacó, dos profetas e demais homens e mulheres de Deus.
“Terminou para Isabel o tempo da
gravidez e ela deu a luz um filho...”. Este não é um nascimento qualquer de um
israelita, Lucas faz questão de salientar que se completou o tempo de gestação,
o tempo de espera, e o útero de Isabel, antes estéril e incapaz de gerar vida,
tocado por Deus torna-se fértil, simbolizando de repente o coração de todo um
povo, cansado de sofrer, de andar por caminhos errados, por atalhos que só
levavam à morte, guiados por falsos líderes, toda a esperança que este povo
guardava no coração nas promessas de Deus, irrompe agora como um lençol d’água
que fura a rocha e flui à flor da terra, para saciar os sedentos de esperança e
de vida nova.
João Batista é a resposta de Deus aos
anseios do povo, após um silêncio de quase três séculos! Inspirados por Deus,
todos os profetas haviam falado deste tempo novo, para consolar e fortalecer um
povo desiludido, desmotivado, esmorecido e sem esperança, certamente esses
profetas foram tidos como loucos, sonhadores, fantasiosos, mas muitos guardaram
no coração essas promessas, e souberam transmiti-las de geração em geração, sem
deixar morrer a esperança, o próprio Zacarias, sacerdote do templo e pai de João
Batista, faz parte deste povo que espera, seu nome significa “Deus se
recordou”.
A sua súbita mudez, longe de ser um
castigo, é prenúncio do tempo feliz que com ele irá se iniciar, e ao apresentar
a criança no templo, para ser circuncidado como era costume, ele confirma o
nome de “João” que significa “Aquele que anuncia” e recuperando a voz,
glorifica a Deus que visitou o seu povo.
Que significado tem, para nós
cristãos, a celebração do nascimento de João Batista neste 24 de Junho? Se
ficarmos apenas na popularidade e nos festejos joaninos típicos desta data,
iremos nos divertir muito, mas certamente não iremos aprender nenhuma lição.
O nosso povo, tanto quanto aquele
povo de Israel, em meio aos sofrimentos físicos e morais, também têm guardado
no coração essa esperança, de que um dia o bem supremo irá triunfar sobre as
forças do mal, é verdade que conforme os dias vão passando, as vezes o desânimo
vai tomando conta do coração de muitos que perderam a crença em Deus, no amor e
na própria vida, são certas promessas mirabolantes que nunca se realizam, são
líderes charlatães que iludem, enganam, roubam. São lideranças religiosas que
não cumprem e nem honram seu papel de ministros de Deus, criando uma religião
fantasiosa, que explora e cria tantas ilusões.
João vislumbra algo que ninguém tinha
ainda vislumbrado: que o reino já estava no meio dos homens, na pessoa e na
missão de Jesus de Nazaré. Anuncia a necessidade de uma mudança de mentalidade
e de coração, para acolher este reino novo, que não se fundamenta em mentiras e
fantasias, mas na Verdade que é Jesus Cristo, o Cordeiro que tira o pecado do
mundo.
Olhando para a origem de João, seu
nascimento e a missão de precursor do Messias, que Deus lhe confiou, podemos
refletir sobre tais acontecimentos à luz do evangelho, e mais do que refletir,
já está na hora de vivermos esse evangelho, que fala de um tempo novo, de um
reino que já está entre nós e que consegue restituir ao coração humano toda
essa Esperança que é Jesus de Nazaré, pois como João Batista, todos nós nascemos
para ser os portadores e anunciadores dessa Boa Nova, ao homem descrente deste
terceiro milênio.Uma ótima semana a todos!
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